terça-feira, 16 de agosto de 2011

Ensaio sobre teu olhar




Como uma multidão,
Assim é o teu olhar;
Rompe esta manhã
Anunciando claridade,
Luz.

II

Na matéria vã da existência,
O olhar sereno, a luz amena.
Sobre as águas do Eu,
Ali, afogado, vai se desdobrando
Este dia iluminado.

Sim, esta matéria vã me presenteia
As cruciais horas e incendeia
O corpo como quem massacra
O momento e sua morada.

Como uma nuvem que se vai,
Assim, se desfazendo,
Teu olhar é como a vela,
A solidão do Todo,
O mais sereno.

Dentro do Eu, agora,
Essa nódoa prossegue
Sua mancha precisa
Na carne que a discerne...
Está por toda parte
Sua dimensão de mancha;
Está na própria existência,
Na cisma, na lembrança.

III

Algumas palavras se gastam,
Se assemelham ao dinheiro comum
Que sempre usamos...
Algumas palavras,
Como a própria vida,
Se dilaceram –
Flor jogada na calçada,
Luz do sol apenas refletida,
Os carros e a solidão da estrada.

Algumas palavras se gastam
De tanto se avizinhar a outras
Tantas palavras plenas de nada,
Desatentas palavras...

Algumas palavras são gastas
Antes de sua exaustão...
Se gastam de não ser usadas,
Se perdem na multidão
De outras nunca pensadas...

Algumas nunca existiram
Na plenitude exata...
Como embrião do ser –
Indefinida morada.

Estas palavras me acenam
Da solidão do Não-Ser-Nada –
Ali, onde espatifam
Seus corpos de apenas palavras...

Algumas se perdem na senda –
O caminho, o anátema
Daquilo que foi tempestade;
Hoje, letra sonhada.

4 comentários:

  1. Certamente esse é um dos poemas mais lindos desse grande escritor. Parabéns Mário pela tão grande profundidade das palavras utilizadas aqui!

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  2. Olá, Aridiana. Obrigado pela leitura. Um dia, quem sabe, estes meus versos sejam reconhecidos. Espero sempre contar com sua preciosa leitura!

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  3. Mário e suas sendas.. Como sempre, muito bom, poeta!

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  4. Valeu, Camila! Vamos trilhando a senda da boa literatura, sem que para isso sejamos subservientes! Grande abraço!

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