domingo, 21 de agosto de 2011

O Mago




Registro nos alfarrábios que tranco no baú,
Minhas receitas de antanho
Dos chás mais populares do sertão:
Cidreira – de aromáticas folhas;
Fedegoso – bico-de-corvo medicinal;
Manjerioba – fedegoso verdadeiro;
Jucá – contém sais de ferro;
Malva – nas folhas tem mucilagem;
Mastruço – crucífera é bom remédio!
E receito óleo de puraquê.
Ministro os uguentos da terra,
E curo qualquer bicheira
De animal; saro até ferida humana!
Sei fazer algum tanto de reza,
Orações poderosas,
E por elas consigo tudo:
Fecho o corpo do valentão;
Protejo da chuva que cai em bátegas,
Para não molhar a farinha ao relento;
Nem se incruentam os roçados!
Rezas de São Martinho,
De São Leão, do Conde!
E os três gritos a São Guino?
Acho qualquer objeto,
Ajunto qualquer desunião.
Sou capaz de ordenar e Fada perder o rumo!
Ela pisa numa cruz ta resolvido.
Medicastro metido a besta,
Dou-lhe uma surra com um pinhão,
Nunca mais engana ninguém!
O pinhão é meu preferido
Para os exorcismos que faço,
Pois seu poder é maior
Do que qualquer vegetal por aí.
Não, não sou feiticeiro convencido,
Nem sou mistificador somente,
Sou bruxo que mata a cobra, mostra o pau!
Aponto para qualquer vivente daqui
Onde cavar e beber de água boa.
Pois sim, meus irmãos destas bandas!
Vou mostrar como é que se escuta de dia
O bater da aluvião na rocha bruta.
E de noite, ouvir os gemidos
Dos espíritos das florestas encantadas.
Está bom, ou quer mais?
O Mago perguntou...


William Lopes
Poeta

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