sábado, 14 de julho de 2012

Ensaio II


Esmago teu olhar
Na via mais extensa...
Revejo-te – como sombra –
Onipresença.

Rastejo-me por outros caminhos –
Sim, pelos instintos
Que me inflamam
O pensamento...

II

Agora, pois, já não sou;
Já não me rendo diante do Todo
Que me contradiz.
Agora, pois, não me permito
Manipular-te como enigma:
Estive sombra
E tantas vidas;
Estive aqui/além da mítica
E serena luz adormecida!

Estive em tantos mundos
- Curtos períodos –
Antes do fim!
Estive noutro corpo
- Transformado além
Dos querubins!

Antes do Nada (O Nada que sou);
Antes do Tudo (O Tudo que se acabou),
Eu era mesmo o ultraje, o desperto,
O rejeitado, o transgressor!

III

Lavo-me alguma –
Pele alguma.
Lavo-me o Eu,
O Eu só(mente);
Lavo-me a alma,
A alma(ardente)
Que sai pelos meus poros todo dia...

Lavo-me (nívea)
Desdita mágoa alheia,
Desprezada!
Lavo-me a pele,
A pele e a sina
De ser mesmo
Palavra lavada.


Mário Gerson
Poeta


Ilustração: Salvador Dali

2 comentários:

  1. "Esmago teu olhar
    Na via mais extensa...
    Revejo-te – como sombra –
    Onipresença" Minha parte preferida.
    Seus poemas são bastante subjetivos, e mesmo sem saber se minha interpretação bate com sua intenção, ainda me chama a atenção de forma especial. Lindo poema.

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  2. Yáskara, e os seus poemas também me deixam feliz, por saber que jovens como você produzem belos textos! Sua veia contestatória é a parte que mais me agrada em sua escrita! Obrigado!

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