sábado, 21 de julho de 2012

Pulsos de Anja Lechner



O teu corpo recebe em seu leito um verbo distinto a cada noite.
Pequenos afazeres da casa protegem o dia de outros assuntos.
Recosto-me na sombra gasta do abismo a contar teus beijos.
O primeiro me ensina os segredos da pólvora.
Outro me faz crer que posso voar.
São como desafios silenciosos os pequenos rostos boiando no espanto de cada olhar.
Sinais de desordem que a vida elege em seu trânsito fugaz pela prosperidade do tempo.
Palavras com que escavo a invisibilidade de teu vulto.
Silêncio que abrigamos ao lado delas para que preservem o que sabem a nosso respeito.
O movimento pendular de teus beijos acentua o labirinto que tecem por dentro e por fora de meus lábios.
Um braseiro descreve as imagens do desejo como amuletos vorazes.
Rebatizo teus ritos como quem desvenda as virtudes da tempestade.
O teu corpo sofisma os disfarces da noite com seus espectros verbais.
Reconheces a volúpia indecifrável de cada pantomima?
Ainda recordas o nome com que me fiz passar por ti?

Eu mesmo tratei de esquecer-me, para que não tivesses como voltar.

Floriano Martins
Poeta

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