sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Ode aos malditos (ou invocação aos poetas)

(Os malditos caminham solitários,
Como vermes execrados pelo mundo.
Aterrorizando qualquer tentativa lúcida
De transfigurar o equilíbrio desejado)

Oh, tu que me procuras a noite!
Oh, fantasma que me tiras o sono!
Corta-me a carne como navalha,
Dilacera meu peito, rompe minhas veias!
Não te quero perto ao lugar dos loucos,
Não te vejo belo à luz da lua.

Sua vida é indesejada;
Sua existência é negada...
Você é lama, é estrume,
É o despojo desfigurado do que um dia fora.

Oh, tu que cantas orgias libertárias!
Oh, tu que destila essa verborragia!
Desprende-te desse cárcere mental;
Alforrias esses sentimentos ruinosos!

Caminhas sob a terra seca,
Espalha por todo canto as suas lamúrias.
Segues por esse solo profano:
Sem mestres, sem senhores, sem deuses...

Bebeste do vinho amargo do esquecimento;
Provaste o pão molestado pelo abominável.
Conspurcaram de encarnado suas vestes;
Esfolaram sua face em praça pública.

Oh, seres bestiais que habitam o abismo!
Oh, odiosas criaturas noturnas!
Amaldiçoaste seus descendentes;
Maculaste sua madre nação;
Quebraste o elo que te unia ao celeste.

Vinde a mim:
Tudo que rasteja,
Tudo que vocifera,
Tudo que blasfema...

Aposse-se de mim:
Toda dor colérica,
Tudo que ofende,
Tudo que destrói...

Invoco-te até mim:
Rimbaud, Baudelaire,
Bukowski, Walter Franco,
Torquato Neto, Sergio Sampaio...
Oh, espíritos malfazejos!

Tudo que o Clero desaprova;
Tudo que o povo esquece;
Tudo que desmorona castelos;
Sejam disso preenchidos os meus dias.

Oh, tu que só foste fiel à infidelidade!
Oh, tu que não sabes voltar pra casa!
- Estrangeiro de suas próprias terras.

Que meus versos sejam promíscuos,
Assim como seus desejos foram.
Que cada linha seja de desapropriação da alma!
Que toda embriaguez seja inspiração
Ou ao menos seja esquecimento.

Que minhas letras sejam odiadas,
E repletas por um famigerado desejo:
De incomodar a todos em sua zona de conforto.
Que meus livros sirvam de prostíbulos
Para amores impuros, insolentes e impróprios.

Que a turbidez dos meus pensamentos
Seja refletida em palavras torpes.
Que o suor que esparge dos meus poros
Exale também o sofrimento desse mundo.

Que toda maldição, toda dor, todo sofrimento,
O fardo e a aflição sejam sempre perenes.
Pois só eles trazem a tão sonhada: rebeldia!

Luiz Luz

Poeta

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