segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Calvário


Não quero escrever pra você
E ser o poeta que embala teus sonhos
Detestaria que pensasse que te sirvo
Trabalhador incansável a te eternizar
Em rimas polidas que pouco significam
Lugares tão comuns quanto a falta de senso
De exaltar algo que me põe em destroços.

Não quero cantar-te
Melodias doces, fáceis de recordar
Almejo, antes de tudo, olvidar
Todo o significado impresso
Nos atos banais, singelos
Frivolidades elevadas a um novo status
Testamentadas com tão pouco caso.

Não quero me tornar um fantasma
Arrastando correntes noites adentro
Perseguindo a luz daqueles momentos
Pra expurgar todo e qualquer carma
Criados à revelia de meus intentos
Por tão vis e cruéis sentimentos
Que me tomaram de assalto
Quando menos era esperado.

Quero, não, necessito respirar
Preciso lembrar quem eu sou
Me situar no caminho onde vou
Sentir que a vida é possível
De ser vivida, vívida
Longe de ti e da negação
Que me impus, ao aceitar condição
De que era preferível
Te amar sem me amar.

Bruno Radner
Poeta

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